O parto da Ana Paula – Nascimento da Gabi

Sim, uma hora eu teria que escrever! Sinto essa necessidade, pois na maior parte da minha vida, minha melhor forma de expressão foi a escrita. Com meu parto não seria diferente!

Para isso, vamos começar… Pelo começo!

Já fui casada em outra vida, e nessa vida (assim me refiro, pois parece uma vida passada) eu aboli a maternidade da mente por N razões! Não tinha vontade… Não me via mãe!

Tinha pra mim que tudo seria um desastre e solitário, então fugi o quanto pude!

Mas ai chegou um momento fim dessa vida! Matei tudo! Acabei! Fui atrás de viver outra vida!

E não é que ressuscitei!!

Encontrei o amor da minha vida! Meu companheiro, meu amigo, confidente, cúmplice e marido! Com ele entendi o verdadeiro significado da palavra casamento e todos os seus acompanhamentos!

E só então passei a imaginar como seria ser mãe com ele ao meu lado!

Após os trâmites de praxe (ficar, namorar, engravidar e casar) – eu sei, casei gravida! Talvez minha mãe não se orgulhe muito disso, mas inverti um pouco a ordem das coisas – engravidamos em 2012… Foi um dos momentos mais sublimes da minha vida… Eu grávida (achei até que não seria capaz de gerar outro ser) quem imaginaria? Uma felicidade sem tamanho!!

Então, vamos ao pré-natal!

Primeira consulta com a Dra Jacqueline, GO com a qual já me consultava há alguns anos!

Tipo de parto que você pretende, me perguntou! Quero parto normal Dra, respondi!

E assim foram os 9 meses seguintes… Toda consulta a mesma pergunta… E como sempre a mesma resposta!

Nessa época morávamos no RJ (mudamos pra lá em 2010 a trabalho) e mantínhamos boa parte do contato com a família via skype.

A pessoa com quem mais falei durante a gravidez: Aline, sobrinha do marido que pouco antes de descobrirmos estar grávidos tinha parido Henrique!

Rolavam altos papos… Fraldas, parto, manias… Perda de sono… Enfim! Aprendi muito nessa fase!

Só não aprendi o que era parir, embora quisesse muito! Boba eu!!!

39 semanas… Consulta de rotina de fim de gestação… Ultrasson fresquinha nas mãos da médica: sua bebê é muito grande, você não tem passagem, tem uma circular de cordão e ela não pode esperar mais!!

😮

Entrei em choque… Como assim???

Eu já tinha pródromos… Sentia pressão no osso pélvico… Faltava pouco, eu sabia!

Mas ela foi taxativa… Não podemos esperar!

Comecei a chorar desesperadamente… -sempre morri de medo de procedimentos cirúrgicos, (até meus primeiros pontos foi no dedo mindinho aos 20 e tantos anos e chorei de medo) medo da anestesia… Medo de ficar sem movimento das pernas – chorei como criança que perde o doce! As demais gestantes me olhavam com ar de “o bebê morreu??”

Mas ela não me deu escolha… Me fez agendar pro dia seguinte a cesárea completamente desnecessária e mais indesejada de toda minha vida!

Voltamos, marido e eu, pra casa! Ele mais conformado que eu… (Já havia vivido isso com os sobrinhos). E eu… Branca de nervoso e calada de dúvidas! Queria entender por quê… Mas o medo era maior!

Skype com a Aline e… Cara de alface… Ninguém entendeu nada!

Dia seguinte preparamos tudo e fomos nos internar… Tenho fotos desse momento… Tentei descontrair… Rir… Não pensar no pior… Mas a todo momento estava lá na minha mente – aquela agulha perfurando minha coluna, me deixando imóvel – era pavoroso imaginar! Mas tentei esconder o máximo possível meus medos! Marido sempre comigo… Um casal de amigos para nos manter menos apreensivos e menos sozinhos (afinal estávamos no RJ e a família toda em SP).

Chegou a hora! 21:00 do dia 22/01/2013… Centro cirúrgico… Gelado… Asséptico… Cinzento… Anestesista rude… Cutucou minha coluna 3 vezes pra conseguir aplicar a anestesia… Realmente pensei que não andaria mais de tanto que deu “choque” na perna esquerda!

Rostos que nunca vi… Gente me tocando… Me cutucando… Me cobrindo… Me agulhando! Protocolos padrões! Eu entendia!

Até que meu marido apareceu… Todo de azul… Parecia um medico, rs!

Médica pronta! Vamos começar??

Cheiro de carne queimada… Sentia meu corpo sacudir mas não fazia ideia de onde estavam mexendo!!! Eu de braços abertos – num deles o acesso com medicamentos, e no outro o aparelho plugado para verificar frequência cardíaca – não via ninguém, nem marido, que estava do outro lado da sala gravando tudo, a meu pedido!! Não me senti só naquele momento… Quisemos assim!

Até que… O grito mais esperado soou no centro cirúrgico… Beatriz foi nascida! Chorava vigorosamente (ou tristemente) e todos os procedimentos imagináveis foram feito nela!! Uma bebê branquinha… Pequena… Mas linda! Fiquei sem palavras… Minha filha… Inteira, saudável e perfeita! Aquele foi o momento mais lindo da minha vida! Dentro daquele contexto! Ficamos alguns minutos juntas… E depois todos se foram!

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Fui costurada, fui limpa, fui trocada e levada ao apartamento! Fiquei um bom tempo sozinha, imóvel… Pensando em como seria a vida dali pra frente! Revi minha Bia por volta da meia noite e não pude ficar com ela… Ela voltou pro berçário… Somente na manhã seguinte me trouxeram ela! Dois dias depois recebemos alta e fomos pra casa…

Os dias se passaram e começamos, Aline e eu, a discutir as causas da minha cesárea, resultado: 300% desnecessária! Fiquei muito chateada com a médica… Foi uma decisão dela!

Poucos meses depois do nascimento da Bia lançaram o filme O Renascimento do Parto. Aline insistiu muito pra que eu assistisse… Convenci marido e fomos juntos! Chorei do inicio ao fim do filme. Me senti violada… Lamentei ter “permitido” que invadissem minha filha daquele jeito… Aquele colírio nojento lhe causou conjuntivite química na primeira semana de vida! Fiquei muito brava! Ao término do filme as palavras do marido que não imaginava ouvir: Nosso próximo filho vai nascer em casa!

E a vida seguiu!

Voltamos a morar em SP… Perto da família… Amigos… E locais que sempre gostamos! E como já era previsto queríamos o segundinho próximo da primeira… Então… “Mãos” à obra!! Durante o processo tentante comecei a fazer pompoarismo… Eu e minha cunhada Sueli fazíamos juntas! Lu Riva, nossa professora, masterblaster suprassumo sempre me disse que o pompoar ajudava na fertilidade… E não é que ajuda mesmo! Em maio lá estávamos nós outra vez grávidos!!

Li como na faculdade – feito louca – assuntos sobre parto… Relatos… Indicações de cesária… Parto domiciliar… Equipes… Enfim! Dessa vez seria diferente! Aline sempre me mandava um link ou outro para me ajudar no empoderamento!!

Comecei o pré-natal com o Dr Alberto… Mas de cara lhe avisei que faria o parto em casa… Então com ele só as rotinas mesmo! Ele concordou! Ótimo!

Comecei a fazer pré-natal pelo posto de saúde… Afinal, pra se ter um bebê em casa é preciso ter certeza de que a gestação está em perfeita ordem!

E comecei a procurar minha parteira… Facebook também é trabalho… Procurei perfil de um, procurei de outro… Fui e vim no mesmo perfil… Até que a Aline, mais uma vez me salvou. Indicou a Karina Trevisan! E lá fui eu atrás dela!

Primeira consulta, marido junto, falamos e falamos… Tiramos dúvidas, esclarecemos mitos e ao final apenas confirmamos o PD. Saímos de lá com a sensação de que tínhamos achado a pessoa certa para apoiar e encorajar-nos até o último momento!

E assim seguimos com nossa gestação… Saudável, sem qualquer tipo de intercorrência, fazendo pré-natal com 3 especialistas diferentes.

Descobrimos ser outra menina… Que maravilha! Gabriela estava se preparando para vir ao mundo!!

Desde quando decidimos que faríamos PD optamos por limitar essa informação a algumas pessoas! Minha família, por exemplo, não foi avisada! Embora eu tenha, de forma discreta, tentado falar sobre o assunto, senti de cara que não era uma boa ideia na concepção deles. Então, preferi manter o assunto guardado! Para alguns amigos falamos e para algumas pessoas da família do marido!

Falamos apenas para quem apoiaria a decisão! Eu não queria que ficassem agourando nossa decisão! Pensamentos tem poder!

A última ultrassom realizada com 37 semanas revelou: circular de cordão, líquido amniótico diminuído e não encaixada ainda, estimativa de 3.500kg, sem contar a cesárea anterior! Eu era um balão ambulante de tão redonda! A sensação era de que ia explodir a qualquer momento e por isso muitos duvidavam da possibilidade de ser parto normal! Até a médica do Ultrassom fez cara de “você é louca?”, quando eu disse que seria PD!

Que maravilha… Iríamos dar um baile no sistema… Um show pra muitos médicos e uma lição pra muitas pessoas que não acreditam em si mesmas!

Com 38 semanas passei a sentir pródromos… Vezes doloridos, vezes sem dor alguma… Algo já vivenciado na gestação da Bia! Então, estava bem familiarizada com essas contrações!

Sempre mantive Aline ciente de tudo – claro… depois de tudo o que vivi e relatei pra ela, ela decidiu ser doula… E eu não haveria de escolher outra.

Com essas sensações resolvi (Aline pôs uma arma na minha cabeça e me obrigou) que precisava concluir meu plano de parto e fazer as malas (caso fosse necessário uma transferência). Elaborei cada item com a certeza de que não seria necessário usá-lo! Inclusive quanto a pedido de analgesia! Eu estava segura de que daria conta do recado por maior que ele fosse!

Eu tinha apenas um pedido pra Gabriela: que tivéssemos tempo de comemorar os 2 anos da irmã mais velha. Dia 22 de janeiro! Nesse ponto Gabi foi bem compreensiva… Nos deixou fazer tudo (coisa simples, só para a família mesmo). E assim pudemos registrar o segundo aniversário da minha princesinha!

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Com os pródromos presentes a ansiedade passou a me cutucar. Afinal, eram sinais de eu ia parir! Embora eu mantivesse a calma, queria conhecer minha segunda florzinha, pegar, cheirar… Queria sentir a sensação de parir. Li tantos relatos lindos e cheios de amor que dava pra ver estrelas por entre as palavras… E ao fim de cada um deles eu pensava: será que comigo será assim?

Mas como tudo na minha vida tem um Q (ou um alfabeto inteiro) de difícil… Com o parto não seria diferente… Foi de fato UM PARTO!!

Chegou a quinta feira… Dona Dalva, minha ajudante semanal, chegou como de costume! Notou que eu estava mais lenta, sem me movimentar muito… Mais quieta! Me questionou sobre o que eu tinha. Disse que estava tendo contrações. Ela sorriu e disse que estava perto! Assim passamos o dia todo! A cada 20, 30 minutos uma contração nova… De dor suportável…muito mais incomoda do que dolorosa de fato. Marido ao fim do trabalho foi jogar sinuca com os amigos do escritório. Mantivemos o contato frequente. E ainda consegui buscá-lo no barzinho (sabem como é né! Com lei seca não se brinca). Tomei um banho morno (afinal, se é trabalho de parto o assunto engrena, se não é, só relaxa)! Relaxei e dormi!

Sexta, 1 da manhã. Acordei com dor… De fazer careta! Não quis acordar nem chamar ninguém, ainda! Fiquei na cama monitorando cada uma delas… 10 em 10, 15 em 15 minutos. Duas horas de observação e registro! Acordei marido. Minhas palavras: Liga pra Aline! (Ensaiei essa frase boa parte da gestação, hahaha!) Ele meio dormindo meio acordado não entendeu direito! Ainda disse a ele: chegou a hora!! Me perguntou qual era a frequência. Falei! Deu um pulo da cama, rs! Eram 3 da manhã!

Marido ligou pra doula… Informou a frequência… E ela pediu pra ele ir buscá-la em meia hora! Continuei com as contrações enquanto o papai se arrumava para receber a filha caçula… Escovou os dentes, fez a barba… Se perfumou… Lindo papai! E mamãe com dores!

A Aline chegou e começou a nova observação! Contrações frequentes mas espaçadas! Decidimos comer! Mas o que? Fizemos marido ir ao mercado (as 5 da manha! Pena que ele teve que rodar tempos pra achar um 24 horas!) e na padaria… Haha! Ele voltou com todos os ferreiros rocher e fandangos que achou no mercado! Além de pão e frios! Comemos e começamos a selecionar musicas para o ambiente ficar agradável! E só então minha ficha caiu: eu ia parir nossa filha! Me emocionei. Chorei como criança! Senti a chegada do momento mais esperado dos últimos tempos em minha vida! Eu ia parir!

O dia amanheceu… A hora do almoço chegou… E as contrações se mantinham no mesmo compasso… Comemos… Lanchamos! Até que a auxiliar da Karina, Thais chegou para ver como as coisas iam! Mas com a chegada dela as contrações resolveram ir embora! (a apelidei de pé frio). Tive uma no máximo duas no período em que ela esteve em casa… Cerca de uma hora, uma hora e meia! No entanto todo o resto estava ótimo! Gabi bem e tudo fluindo como deveria! Thais me disse que eu ainda estava em pródomos! (Confesso ter ficado muito desapontada comigo, com meu corpo. Como assim, pródomos?) Fiquei triste! Nem quis fazer exame de toque porque sabia que não iam achar nada! E foi só ela ir embora que tudo voltou… Na mesma intensidade e mesmos espaçamentos!

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Decidimos descansar! Marido levou Aline de volta pra casa, afinal já era noite. E eu tomei outra ducha e fui dormir! Estava cansada afinal, tinha acordado a 1 da manhã!

Sábado, 3 da manhã! Acordei com dores fortes… Mas achei que não ia a lugar nenhum, tomei outra ducha e tentei dormir! IMPOSSÍVEL!! Quanto mais deitada eu ficava mais forte eram as dores! Comecei a observar: 10 em 10 minutos! Mas eu só queria dormir! Resolvi sentar na bola e apoiar a cabeça na cama! Ajudou muito… Eu dormia, acordava com dor, muita dor… E depois dormia de novo! Assim fomos até amanhecer o dia! E quando eu achei que tinha engrenado, marido buscou a doula, de novo!

Mas não foi o suficiente pra Gabi nascer… Ela queria show… Queria me trolar!

Tentamos alguns truques pra ajudar a engrenar o trabalho de vez, o chá da Naoli foi um deles… Troço ruim… Tem gosto de nada nem de coisa alguma!! Mas… Pelo bem do parto, tomei! Funcionou? Nada!!!

Dançar… Claro que uma mulher que procura um parto normal também procura uma atividade. A minha: dança do ventre! Comecei a dançar no intuito de ajudar a Gabi a encaixar… Rebola daqui, rebola de lá… E depois de um tempo minha barriga parecia estar pendurada…

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ÓTIMO!! Esforços surtiram efeito!! Contrações ritmadas – mas ainda de 10 em 10 minutos – barriga baixa! Karina avisada! Fotógrafa chamada, Thais a caminho! Mas havia algo estranho… Eu não sentia dor na lombar. (Sempre li que pra dilatar a mulher sente contrações com dores do pé da barriga puxando pras costas) Eu não sentia isso! Ou seja, não estava indo a lugar nenhum!! À tardezinha eu já estava cansada e enrugada de tanto tomar banho no banheiro e de ficar na piscina! No chuveiro as coisas se apressavam (5 em 5 minutos) na piscina eu dormia (20, 30 minutos entre uma contração e outra). Eu estava começando a ficar brava! Novamente Thais chegou… O ritmo se manteve, ufaaa! À noite chegou e nada mudou! Tenso!

A essas alturas, marido já tinha achado o tema do parto (música maldita que passou dias nas nossas cabeças), já tínhamos feito todo tipo de piada sobre as coisas não engrenarem, já tínhamos caminhado pelo condomínio, eu já tinha chorado algumas vezes por causa da dor, já tinha rezado umas mil vezes pra TP engrenar, já tinha conversado com a Gabi pra parar de me trolar… Beatriz sempre estava ao meu redor, me perguntava: “um fô, mãe?”, quando eu gritava de dor!

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Me questionei se algum vizinho iria bater à porta pra saber o que tanto a mulher da casa gritava! Mas ninguém apareceu.

Por mais que estivesse sendo dolorosa cada contração, o clima em casa era ótimo. Dava pra sentir a paz, o amor no olhar do meu marido, a admiração no da doula e a alegria constante no rosto da Bia! Por mais que a dor estivesse de matar (e estava) eu estava feliz!

Depois de passar tantas horas acordada… Thais sugeriu que eu tomasse um drink – com óleo de rícino – e lá vai marido e doula preparar essa belezura! Tiquinho de vodka, leite condensado, preparo de limão pra tequila e o bendito óleo! Sabor: melhor que o chá!

Meio litro de drink depois e eu tava bêbada! Claro que estava! Era o mínimo!

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Nova sugestão: chuveiro! Dessa vez com marido… E lá vamos nós!!

Foi um banho delicioso… Se é que me entendem, rs! E por ser tão bom não tive nenhuma contração! Ou seja, não era hora!

Mas após o banho elas voltaram… Só que eu precisava descansar. Eu já era um trapo a essas alturas!

Nova sugestão: acupuntura!

Thais ligou pra Ana Lúcia – ótima acupunturista – ela de pronto aceitou me visitar! E logo chegou.

Agulhadas daqui… Agulhadas dali… Muita erva chinesa queimando (marido e doula chapados achando ser maconha) eu dormi durante a sessão! De fato relaxei. Me deixei descansar! Eu precisava!

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Ainda assim, senti curiosidade de saber se todo aquele tempo tinha mudado algo no meu corpo e por isso pedi a Thais um exame de toque! Resultado 2cm. Lembro de ter dito ou pensado que 2cm era muito bom pra outra coisa, mas não pra parir! E só então cai na real de que não sou eu quem mando nesse assunto! Meu corpo estava atuando a seu tempo, no seu ritmo e só cabia a mim respeitar e ajudar no que fosse necessário!

E quando, novamente todos se foram, eu peguei no sono! Recarreguei as baterias para o dia seguinte! E a partir daqui, me desliguei do mundo!

Madrugada de domingo… Acordo com dores fortes, do tipo, estão me rasgando! Passei a sentir as fortes contrações acompanhadas de fortes dores na lombar… Mas era algo mais que dor: elas queimavam, ardiam minha lombar, pareciam estar me abrindo (o que não deixou de ser verdade)! Eu tinha vontade de chorar! Hoje me perguntam como eram as dores! Simples: fodásticas!! Mas sabia que todo aquele processo estava trazendo minha Gabi para nossos braços! E esse pensamento me manteve firme e forte – feito geleia – até o fim!

O clima em casa permaneceu o mesmo, musicas, risos, piadas. Chocolates, porcarias em geral e paz! O ambiente estava ótimo. E por mais que eu estivesse urrando de dor, mantive a calma. Não dei coice em ninguém, ou pelo menos tentei não dar (o que foi uma surpresa geral vindo de mim). Lembro que por algumas vezes rejeitei as massagens da Aline. Ainda assim, num determinado momento da partolândia (sim, ela existe e chegamos lá mais cedo ou mais tarde) pedi pra que não me tocassem! Confesso não lembrar disso. Mas Aline me garante que esbravejei nesse sentido! Tá né!!

Perdi a noção das horas – e já pra lá de cansada Karina chegou… Minhas contrações estavam de 5 em 5 minutos! Decidimos fazer um toque: 6cm! Uauu… Minhas esperanças brilharam! Meu ânimo voltou e eu renovei as forças! Faltava pouco! Segundo ela, até umas 16 Gabi teria chegado! Então, só me restava colaborar!!

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Dor em cima de dor, grito atrás de grito, posição nenhuma me servia! Marido me dando apoio e a mão pra eu apertar a cada contração! Beatriz aos arredores acompanhando tudo e observando atenta! Algo estava acontecendo. Ela via e sentia, me consolava e acarinhava! A melhor coisa que fizemos foi mantê-la junto a nós durante todo o processo!

À tarde (só Deus sabe as horas) chegamos aos 9cm… Thais também chegou pra ajudar. A mulherada foi fazer bolo e café… Estavam todos com fome, rs! E eu… Eu já não era mais nada! Só um alguém querendo parir!

Mas algo ainda não está correndo como deveria! Karina me examinou novamente… 1cm de colo ainda segurava a cabecinha da Gabi. E isso não a deixava passar…

As dores começaram a ficar insuportáveis… Minha cabeça a mil… Não queria me render… Não queria desistir…(embora eu tenha pensado que não conseguiria) Mas a certa hora eu gritei: não aguento mais! Foi a gota! Eu precisava de ajuda! Meu psicológico estava começando a se abalar! E a dor… Ahh dor… Não me deixava mais pensar!

Karina chegou pra mim e disse: já basta! Vamos parir! Já deu o que tinha que dar! Chega de brincadeira!! Brava e taxativamente!

Nessa hora senti medo de não conseguir. De me render ao sistema. Mas não pedi anestesia!

Lembro que ainda era dia, mas as horas? Já não tinha mais ideia! Olhei por uma fresta da janela do meu quarto e pensei: por que estou fazendo isso? Pra que passar por tudo isso? Relembrei da minha cesárea, do meu pânico , dos meus medos! Relembrei todas as intervenções que Bia sofreu, de como eu me senti no pós parto, do quanto sofri comigo mesma a sensação de fracasso!

Levantei da bola e decidia fui pro banheiro! Liguei o chuveiro e comecei a pensar apenas no que eu precisava fazer: PARIR!

Quem me conhece sabe que sou megamasterblaster independente. Sempre me virei sozinha! E mesmo casada, marido viaja muito… Então, sempre fui eu comigo mesma! E por conta disso Karina não deixou que ninguém fosse comigo! Ela entendeu que eu precisava fazer aquilo sozinha! Era eu comigo mesma mais uma vez!

Pedi uma almofada do sofá, joguei no chão do box e abri o chuveiro! Me joguei como uma mendiga na sarjeta! 15 minutos foram o suficiente para a dor mudar! Comecei a sentir algo diferente! Troquei a almofada pela banqueta! E com as contrações a vontade de fazer força! ALELUIA!!! Mudamos de fase! Só que não!!!

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Os puxos estavam cada vez mais fortes… Força já era meu sobrenome de guerra! Mas ainda faltava mais alguma coisa!

Mais uma vez Karina me examinou: meio centímetro de colo ainda segurava Gabi! Que saco! Me deixa em paz colo!!

Karina então sugeriu que na contratação seguinte tentaria afastar o colo pra passar a cabeça de vez! Aceitei sem pensar! E assim foi! Doeu pra cacete!!

Com o escurecer da noite também chegou a hora da Gabriela nascer!

Só que tivemos uma certa dificuldade de achar a melhor posição! Pois eu estava absurdamente cansada! Eu queria de cócoras, mas não tinha mais pernas pra me sustentar! A ideia brilhante, então, surgiu: sento na banqueta, pra descansar. Quando a contração vier, marido me levanta, Karina tira a banqueta, eu fico de cócoras e faço força! Ao fim da contração, marido me ergue, Karina devolve a banqueta e eu sento!

Meia hora depois marido estava morrendo, eu ainda mais cansada e Gabi ainda não tinha mostrado seus cabelos! Coitado do marido que quase morre por levantar e sustentar sua donzela de quase 100kg!

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De 4 apoios no chão então… Uma almofada pra cada joelho… Meu tronco sobre a bola e puxa marido… Meia hora depois, as almofadas não paravam de escorregar!!

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De 4 apoio na cama. Subo na cama… Organizo os travesseiros… Tronco em cima deles, contração e força!! Força… Força!! Meia hora depois percebo que meu tronco está mais baixo que minha bunda! A gravidade não está a favor! Pega a bola! Me apoio nela. Força, força… E nada! Nem sinal! Situação dramática!

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Por fim, decidimos pela banqueta (as chances de lacerar são mais altas. Ahh… Que se dane! Só quero parir) Voltamos pro chão!

Nessa hora comecei a lembrar do que mais a Aline me falava: respira, seu oxigênio é também o dela! Mas quanto mais eu fazia força, mais difícil respirar ficava!

Eu não tinha mais fôlego! Por conta disso os batimentos da Gabi chegaram a 70 (panico no rosto das parteiras). Oxigênio!! Marido ficou segurando o “canudinho” do oxigênio no meu nariz… Pedi “delicadamente” pra aumentar a dosagem, pois precisava de mais! Todos riram, rs! Não podia!

A cada contração uma força animal eu fazia! Abraçava meus joelhos e urrava!!

Lembrei também dos meus exercícios de pompoar e epi-no! Não queria me rasgar toda… Mas com tanto esforço já feito até então, eu só queria que a Gabi saísse!

A essa altura do campeonato eu não me importava mais com laceração… Decido fazer força e fim!

Sentia Gabi descendo… Thais, muito perspicaz pegou seu rebozo e meu ajudou a fazer força! Santo rebozo!

Puxá-lo de cima pra baixo me deu um norte de intensidade de força! Consegui canalizar cada uma delas para a região correta a fim de fazer a Gabi sair!

Cheira oxigênio, contração, força e urro… Essas foram as seqüências seguintes até que eu falei: tá ardendo! Era Gabriela coroando! Viva… Estamos quase lá!

Oxigênio, contração, força e urro!! E a cabeça saiu! Beatriz agachada ao nosso lado, de olhos vidrados, viu a irmã saindo…

Nessa hora Gabi encerrou sua estadia dentro da mamãe com chutes e pontapés!! Senti ela virar para terminar sua jornada de saída! E depois de uma última contração, lá estava ela… NASCEU!

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Beatriz entendeu tudo direitinho… E saiu correndo pra esconder seu travesseiro (xodó e mania que ninguém mexe) dando a entender que não emprestaria a irmã mais nova, hehe! Todos riram! Foi o fechamento com a chave de ouro que precisávamos!

O suspiro de alívio… Ela nasceu. Depois de 60 horas de dores, dentre eles, 16 de muuuuuuita dor da fase latente a expulsiva!

A felicidade desse momento é inexplicável! Papai chorou… Nos abraçou! Gabriela veio para mim de mim. Para meus braços que eram livres (sem agulhas nem acessos).

Tão pequena, mas já tão valente por enfrentar essa longa jornada!

Eu pari Gabriela, pari Beatriz e renasci das cinzas que a vida me colocou! Pari meus medos, meus traumas e inseguranças! Junto com minha filha veio uma nova mãe, uma nova filha, uma nova esposa, uma nova mulher!

Depois de todo um trabalho de parto, vi marido desmoronar de emoção… Vi o olhar de orgulho da Aline, vi a alegria da equipe pelo sucesso de mais um parto! Vi minha filha em meus braços e minha mais velha admirada e só pude sentir que eu tinha me completado!

Depois disso tudo, é claro que tive laceração, mas nem liguei! Levei alguns pontos para recompor e refazer o parque de diversões do papai! Explodiram hemorroidas no meu pobre traseiro! Meu cabelo virou uma palha seca de tanto tomar banho! Mas a minha felicidade… Ahhh… Essa não tem preço nem tamanho!

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Daqui pra frente a vida não será fácil: noites sem dormir… Dois bebês para cuidar… Todo o resto da vida pessoal, profissional e doméstica pra dar conta! Mas uma certeza me acompanhará até o fim da vida: eu pari, eu vivi essa experiência, faria tudo de novo se preciso fosse, eu renasci de mim mesma! Estou pronta pra seguir em frente de uma forma melhor e mais feliz! Deixando pra trás tudo que me atormentava e me amedrontava!

Preciso agradecer a Karina (parteira competente e segura do que faz), a Thais (auxiliar calma e sempre de prontidão), a Line Sena (fotógrafa que registou tudo), a Aline (doula de primeira viagem em PD, porém de extrema competência), a Bia que se manteve ao meu lado me apoiando e até me penteando, aos parentes e amigos que mantiveram a expectativa e ansiedade durante todo o trabalho de parto, e claro, meu marido… Que sem ele nada disso seria possível acontecer. Pessoa que mais me incentivou, apoiou, deu força física e moral, me segurou (literalmente), me acarinhou, me abraçou para suportar dores! Marido tranquilo que em momento algum cogitou a possibilidade de eu não conseguir! Que em momento algum se abalou com o nível de dor que eu estava vivendo, que jamais mencionou uma transferência ou alguma medicação para me aliviar de alguma forma! Respeitou meu desejo de manter tudo ao mais natural possível! E me ajudou a não falhar!

Conseguimos! Parimos!

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5 comentários sobre “O parto da Ana Paula – Nascimento da Gabi

  1. Erenir Santa Anna disse:

    Estou chorando aqui. É muito gratificante perceber o quanto você pode fazer por sua vida e seu legado para suas filhas. Um grande começo de relações bem dirigidas, confiáveis e incentivadoras. Parabéns pela coragem em acreditar em si mesma e em empreender uma jornada tão única. Parabéns ao maridão que não se negou a comparecer como sustentação nesse momento tão importante. Muito glamour, nasceu a criança, a linda Gabriela, espelhada na irmã Beatriz e nasceu a mãe, a mãe e seu bebê numa operação biunívoca de muito sucesso. Parabéns Ana Paula, um texto esclarecedor, sentimental e sensível de todas as maneiras. De jeito nenhum eu perderia de ler e absorver essa linda experiência de dar a vida dessa forma natural, humana e responsável. Parabéns! felicidades a sua família completa dessa forma tão bonita! Beijus!!!

  2. Maria Cristina disse:

    gostaria que vc falasse o pq. Cesariana foi 300%
    Vc sabe que circular de cordão pode evoluir para morte fetal? A ignorância é uma
    Merda, vc acha mesmo que ler como uma louca tudo sobre parto faz de vc uma medica ? Caiam na real , crianças nascem com ou sem médico presente , eh fisiológico, mas quando complica MORREM MÃE E FETO

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